Desafio de escrita dos pássaros #2.1
Fogo sem supervisão
Isto de me apaixonar um dia dá para o torto...
Há coisas que simplesmente devemos evitar, como por exemplo comer laranja à noite. Todo o português que se preze conhece o provérbio popular de cor “de manhã ouro, à tarde prata e à noite mata”. Estes aforismos existem por alguma razão, alguém outrora morrera por causa do raio da laranja e lá pensaram: “Epá, isto de comer laranja à noite é capaz de não ser boa ideia, é melhor deixar registado para gerações futuras não incorrerem no mesmo erro”.
Porque é que ninguém faz isso em relação ao amor? Bom, pensando bem Camões tentou, com o já conhecido “Amor é fogo que arde sem se ver” mas acho que a mensagem não foi passada de forma correcta, continuo com a sensação de que as pessoas não entendem a gravidade da comparação. Pessoal… Alô!! O Fogo queima!
E não há nada pior, do que um fogo estar a arder sem qualquer tipo de supervisão. A meu ver é um perfeito começo para um incêndio de grandes dimensões. É assim que se perdem florestas e se dão as grandes desgraças. Convenhamos, se ninguém o vê, então ninguém o vai apagar. Não tarda estamos em pé de igualdade com a Austrália. Têm a certeza de que se querem mesmo meter nisso do amor?
Sinceramente a mim não me apetece nada ficar com uma queimadura de 3º grau, ou pior, sair com o cabelo ou as roupas a cheirar a fumo. É que a queimadura ainda passa, um bocadito de pomada, umas ligaduras e tal. Mas e o cheiro que fica impregnado na roupa? Disso ninguém fala.
Pois, o amor é muito bonito e tudo mais, mas ter uma camisola ainda a cheirar a fumo passado quinze dias nem por isso. É que, lava-se, seca-se, põe-se a apanhar ar e mesmo assim o raio do fumo parece que foi um defeito de fabrico.
E mesmo que se guarde a roupa no sótão e só a voltemos a encontrar passado uns bons aninhos, ainda lhe reconhecemos a faro o fogo que lhe deixou com aquele cheiro característico.
É que já não é roupa, é memoria de um fogo que ardeu sem se ver. De uma laranja que não se devia comer à noite. De uma coisa que, bem lá no fundo, sabíamos que ia correr mal.